European Economic
and Social Committee
A desinformação triunfará se aqueles a quem se destina forem permeáveis
Conversámos com o jornalista franco-georgiano Régis Genté sobre as questões que mais suscitam preocupação na perspetiva das eleições europeias de 2024: a ascensão da extrema-direita, a desmotivação dos jovens e a desinformação. Especialista em política na região pós-soviética, Régis Genté colabora com meios de comunicação social de referência, como a Radio France Internationale, o canal de televisão France 24 e o jornal Le Figaro.
CESE Info: Considera que o crescimento dos partidos de extrema-direita em toda a Europa terá impacto no resultado das eleições europeias?
Não sou, de todo, perito na extrema-direita na Europa, mas olhando para os dados de que dispomos no meu país (França) tenho de reconhecer que a extrema-direita está à frente nas sondagens. As eleições europeias constituem um meio político para os cidadãos europeus enviarem aos seus políticos uma mensagem sobre o seu próprio país. Os cidadãos europeus pensam, em primeiro lugar, sobre a situação política no seu país e só depois sobre a situação na Europa. Portanto, sim, os partidos de extrema-direita terão provavelmente impacto nestas eleições, num contexto em que o debate sobre as questões relativas à soberania por oposição à integração europeia está a ganhar preponderância.
Considera que os jovens estão motivados para participar nas eleições europeias?
Responderei a essa questão enquanto cidadão comum que vive num território pós-soviético há 22 anos e como alguém que, muitas vezes, também fala com jovens na Europa. Não, não estão muito motivados para votar. O mesmo se passa na Geórgia, onde vivo. Os jovens estão politizados, mas não a favor de um partido pró-governo ou da oposição. Querem participar na vida política do seu país, mas recusam-se a votar porque nenhum partido nem nenhum dirigente partidário os representa verdadeiramente. É uma posição interessante que respeito, porque pode abrir as portas a uma forma diferente de fazer política, que vá além da democracia representativa e dos partidos. Mas, entretanto, deixa a arena política aos políticos e às várias forças políticas... sem que os jovens nela participem.
Até que ponto a desinformação pode influenciar os eleitores nas próximas eleições europeias?
A desinformação triunfará se aqueles a quem se destina – na ocorrência, nós, europeus – forem permeáveis. A desinformação russa não cria problemas, serve-se dos que já existem. E todos nós estamos conscientes de que as nossas sociedades estão atualmente a atravessar uma profunda crise política e moral. Isto significa que, infelizmente, o terreno é fértil para que a desinformação frutifique. No entanto, sinto que, enquanto europeus e cidadãos do mundo, estamos agora mais conscientes e conhecedores da forma de lidar com as notícias nos média sociais. Aprendemos muito nesta última década. Sabemos um pouco melhor como filtrar as notícias nas plataformas dos média sociais, uma vez que estamos cientes de que estas são um espaço propício à manipulação e à disseminação de notícias falsas. Não devemos ser demasiado pessimistas, porque esse estado de alma já nos tornou vítimas da desinformação. As sociedades deixaram de ser ingénuas e as pessoas estão cientes de que alguns países e intervenientes políticos podem utilizar os média sociais para manipular a opinião pública. Eu diria que apenas uma minoria de pessoas está ativa nos média sociais; a grande maioria da população média, formada, tende a manter-se silenciosa. E este número significativo de pessoas não está a engolir tudo o que é escrito nos média sociais.