Uma iniciativa de bairro que começou por ser uma serenata para encher os corações nas horas vazias do confinamento, e que depois cresceu até ao tamanho das necessidades da sua comunidade, está entre os vinte e três projetos da UE e do Reino Unido que receberam o prémio do CESE, pelo seu contributo excecional para combater a COVID-19 e as suas consequências desastrosas.
O Comité Económico e Social Europeu (CESE) atribuiu o Prémio CESE para a Solidariedade Civil ao projeto "Vizinhos à janela", que pela força agregadora da sua música, ajudou a transformar um simples bairro numa verdadeira comunidade de entreajuda.
O CESE, órgão consultivo que representa a sociedade civil europeia ao nível da UE, selecionou o "Vizinhos à janela" como o melhor candidato português ao Prémio, afirmando que o seu projeto constituiu um exemplo brilhante de notável responsabilidade cívica e solidariedade durante a crise da COVID-19.
O "Vizinhos à janela" foi anunciado como um dos 23 laureados numa cerimónia de entrega virtual de prémios realizada pelo CESE a 15 de fevereiro.
Cada vencedor recebeu um prémio no valor de dez mil euros.
Na entrega dos prémios, o vice-presidente do CESE responsável pela Comunicação, Cillian Lohan, declarou:
O CESE tem salientado repetidamente que a solidariedade e a ação conjunta direcionada são essenciais para sobreviver a uma pandemia deste tipo. A única resposta eficaz a uma crise como esta pandemia é agir com rapidez, de forma decisiva e em conjunto. Há ensinamentos a tirar desta situação para lidar com outras crises, sejam elas sociais, económicas ou ambientais.
A sociedade civil tem estado na vanguarda de todas as ações de solidariedade e, sem a sua ajuda no terreno, o preço a pagar por esta pandemia teria sido muito mais elevado. Todos os projetos recebidos são a prova do empenho altruísta dos cidadãos e do nível local, o que comprova que o contributo da sociedade civil nesta luta é enorme. Com este prémio, reconhecemos as pessoas e as organizações que fazem a diferença nestes tempos sem precedentes. É uma honra poder celebrar em conjunto
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O VENCEDOR PORTUGUÊS
O "Vizinhos à janela" recebeu o prémio na categoria de "ofertas culturais". Esta categoria agrupou projetos que desempenharam um papel fundamental na atenuação dos efeitos da pandemia, de várias formas criativas e originais. Embora alguns possam não ser sustentáveis a longo prazo, ajudaram a compensar muitas fragilidades, sobretudo psicológicas, na fase mais crítica da pandemia.
Com Portugal em confinamento, um grupo de vizinhos juntou-se para aliviar o tédio e a solidão da vida em casa. Duas vezes por dia, às 14.00 e 20.00, os residentes da Rua Belo Horizonte "Jardim dos Arcos", em Oeiras, tocaram música das suas varandas e janelas durante 10 minutos, até ao final de julho de 2020. Estas breves explosões de cultura e ligação trouxeram algum alívio e regularidade a rotinas perturbadas, e proporcionaram força e alegria às pessoas que viviam no bairro.
Quatro outras ruas próximas juntaram-se à iniciativa, e o projeto foi coberto pelos meios de comunicação locais e nacionais. Médicos, enfermeiros, polícias e cantoneiros visitaram a rua e receberam uma homenagem musical em reconhecimento do seu trabalho. Pouco depois, a Câmara Municipal de Oeiras contactou os residentes e convidou-os a aproveitar este espírito de solidariedade para recolher alimentos para os necessitados.
Cada prédio na rua nomeou alguém para recolher provisões dos vizinhos, as quais depois são entregues a várias associações que trabalham com grupos vulneráveis. As empresas locais, mercearias e restaurantes também contribuíram com mantimentos. Em média, foram doados 700 artigos por semana, e vários residentes iniciaram atividades de voluntariado, com carácter permanente, junta dessas associações. Neste momento, a ajuda alimentar já atingiu as 6 toneladas.
O que começou por ser uma forma divertida e simples de combater o isolamento e a solidão devido ao confinamento, rapidamente se transformou numa iniciativa de solidariedade mais ampla para celebrar os trabalhadores da linha de frente e apoiar as pessoas que enfrentam necessidades urgentes durante a pandemia. Enquanto os 'concertos de varanda' já não se realizam com a regularidade anterior, a recolha de alimentos continua, e os residentes estão determinados a continuar a fazer a diferença na sua vizinhança.
Damos tão pouco e recebemos tanto…Esta enorme valorização dá-nos muita mais força para continuar na luta e na ajuda aos mais carenciados, e dar um verdadeiro sentido à frase: "Ajude a ajudar",
disse o coordenador do projeto Íñigo Hurtado, um catalão a viver em Portugal há mais de 30 anos. Uma vez que o nosso movimento de festa e alegria surgiu nas nossas janelas e varandas nos momentos de confinamento, continuaremos a dar música nos dias em que voltarmos novamente a estar fechados. Com esta crise da COVID-19, a próxima pandemia é a fome ... A nossa luta continua! BORAAAAA!!!!
Os prémios foram atribuídos às candidaturas vencedoras de vinte e um países da União Europeia. Foi atribuído um prémio a um projeto com incidência transfronteiras e outro a uma organização do Reino Unido, como forma de mostrar que o CESE gostaria de manter relações estreitas com a sociedade civil do Reino Unido, apesar de o país ter saído da UE. Embora o CESE pretendesse encontrar um vencedor em cada Estado-Membro da UE e no Reino Unido, não houve candidaturas elegíveis de projetos em seis países.
A lista completa dos vencedores está disponível abaixo e na nossa página Web.
Os vencedores foram selecionados de entre um total de 250 candidaturas apresentadas por organizações da sociedade civil, indivíduos e empresas privadas. Todos os projetos assentavam na solidariedade e apresentaram formas criativas e eficazes de fazer face aos desafios frequentemente assustadores criados pela crise.
A maioria dos projetos visou grupos vulneráveis ou as pessoas mais afetadas pela crise, tais como os idosos ou os jovens, as crianças, as mulheres, as minorias, os migrantes, as pessoas em situação de sem-abrigo, o pessoal médico, os trabalhadores e os empregadores.
No tocante ao conteúdo dos projetos, estes centraram-se em cinco temas principais: fornecimento de alimentos e assistência a grupos vulneráveis, equipamento médico, serviços de aconselhamento, serviços educativos e informação sobre a pandemia, e cultura.
A nossa brochura, disponível a pedido, contém informações mais detalhadas sobre todos os vencedores e os demais candidatos.
O CESE espera que o Prémio para a Solidariedade Civil reforce a visibilidade e sensibilize não só para os projetos vencedores, mas também para muitas outras iniciativas criativas dos cidadãos em curso na UE.
Hoje, não aplaudimos apenas os nossos vinte e três vencedores. Homenageamos toda a sociedade civil europeia e muitas das suas organizações, empresas e indivíduos que mostraram, e continuam a mostrar, uma solidariedade, coragem e responsabilidade cívica sem precedentes nestes tempos difíceis e incertos
, afirmou Cillian Lohan.
Os projetos e as iniciativas levados a cabo pelos cidadãos e pela sociedade civil complementaram, de diversas formas, os esforços envidados pelos Estados-Membros para atenuar as consequências da crise, tendo-se até, por vezes, antecipado em alguns domínios, tais como a produção de máscaras faciais ao nível local e regional, declarou o CESE.
Em comparação com as candidaturas recebidas para o Prémio para a Sociedade Civil em anos anteriores, o CESE registou um aumento do número de candidaturas de organizações informais ou menos conhecidas, o que demonstra claramente o espírito existente no terreno. Houve também menos candidaturas de determinados países menos afetados durante a primeira vaga da pandemia ou de países com sistemas de proteção social mais sólidos.
CRITÉRIOS DE ATRIBUIÇÃO DO PRÉMIO
O CESE lançou o prémio em julho de 2020 sob o tema «A sociedade civil contra a COVID-19», anunciando que seria um prémio excecional de edição única, em substituição do habitual Prémio CESE para a Sociedade Civil. O objetivo era homenagear a sociedade civil europeia, que se empenhou ativa e altruistamente em atos de solidariedade desde os primeiros dias da pandemia.
O concurso estava aberto a indivíduos, organizações da sociedade civil e empresas, cujos projetos tinham de ser estritamente sem fins lucrativos e não ser financiados em mais de 50% por fundos públicos. Deviam estar diretamente ligados à COVID-19, visando especificamente o combate ao vírus ou às suas consequências.
Todos os anos, o habitual Prémio CESE para a Sociedade Civil homenageia organizações da sociedade civil e/ou indivíduos cujos projetos celebram a identidade europeia e os valores comuns num determinado domínio de trabalho. É atribuído desde 2006.