Yves Somville: lições da crise

Enquanto habitante de uma zona rural e apaixonado por jardinagem, devo confessar que não sofri muito com o confinamento, exceção feita de não ter podido ver os meus próximos, a família e os amigos.

Desta crise tiraria três lições. Primeiro, embora a UE tenha acabado por encontrar uma solução orçamental de forma a contribuir para a recuperação, lamento a falta de coordenação entre os Estados-Membros quanto ao fornecimento de equipamento médico no auge da crise ou ainda às medidas a tomar durante o período de desconfinamento. Uma maior coerência teria permitido aos cidadãos compreender melhor a utilidade da UE.

A segunda lição diz respeito ao que vivi no meu país: em vez das insuficiências manifestas de determinados responsáveis pela gestão da crise em matéria de comunicação e abastecimento de equipamento de proteção, recordarei antes a dedicação de muitos cidadãos durante a crise, no domínio da saúde, naturalmente, mas não só. Na realidade, foram os serviços públicos, por vezes tão vilipendiados por alguns, que permitiram a toda a nossa sociedade atravessar esta crise, sem esquecer as inúmeras demonstrações de solidariedade dos cidadãos.

Por último, diria que a terceira lição é a resiliência e a disciplina de que os cidadãos são capazes quando é necessário. Sem dúvida, era a saúde que estava em jogo, face a um vírus pouco conhecido e sem tratamento disponível.

Desejo que, da mesma forma que escutámos os peritos na gestão desta crise sanitária, sigamos as orientações dos climatólogos e outros especialistas na gestão da transição climática no contexto da retoma. 

No setor agrícola, embora os trabalhos de primavera tenham decorrido em boas condições, o confinamento e o encerramento das empresas e do setor da hotelaria e restauração conduziram a uma quebra da procura, criando pressão sobre os preços de certos produtos, como o leite, os suínos, determinadas categorias de gado ou, no caso particular da Bélgica, as batatas, devido ao encerramento das fábricas de transformação, que são grandes exportadores em período normal.

O setor hortícola também sofreu consideravelmente com o confinamento, nomeadamente devido à falta de mão de obra sazonal para a colheita de pequenos frutos. Não obstante, devemos destacar o lado positivo da decisão dos agricultores de venderem diretamente nas explorações.

Os consumidores voltaram-se decisivamente para a produção local, tanto no setor da carne e dos laticínios como dos produtos frutícolas e hortícolas. Que esta tendência se mantenha no futuro!